sábado, 31 de outubro de 2009

Poesia

Supremo Enleio

 
Quanta mulher no teu passado, quanta!
Tanta sombra em redor! Mas que me importa?
Se delas veio o sonho que conforta,
A sua vinda foi três vezes santa!

Erva do chão que a mão de Deus levanta,
Folhas murchas de rojo à tua porta...
Quando eu for uma pobre coisa morta,
Quanta mulher ainda! Quanta! Quanta!

Mas eu sou a manhã: apago estrelas!
Hás de ver-me, beijar-me em todas elas,
Mesmo na boca da que for mais linda!

E quando a derradeira, enfim, vier,
Nesse corpo vibrante de mulher
Será o meu que hás de encontrar ainda...




Florbela Espanca



                                                                         

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Poesia no feminino

                                                        CORAÇÃO  PARTIDO


    Dizer da paixão mais do que o sangue
    mais do que o fogo
    trazido ao coração

   Mais do que o golpe furtivo já ardendo
   revolvendo na seda
   a ponta de um arpão


   Dizer da febre sem fé
   do animal feroz
   dos líquens abertos e dos lírios


   Dizer desassossego
   sem razão
   da raiva silvando no delírio


   Dizer do prazer o meu gemido
   no quanto é ambígua esta prisão
   a deixar-me livre no que sinto
   e logo envenenada à tua mão.




Maria Teresa Horta



                                                         
                                                  



                                                                  

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Poesia

                                                   Foi um momento
Foi um momento                                                   
O em que pousaste
Sobre o meu braço,
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão
E a retiraste.
Senti ou não ?

Não sei. Mas lembro
E sinto ainda
Qualquer memória
Fixa e corpórea
Onde pousaste
A mão que teve
Qualquer sentido
Incompreendido.
Mas tão de leve!...

Tudo isto é nada,
Mas numa estrada
Como é a vida
Há muita coisa Incompreendida...

Sei eu se quando
A tua mão
Senti pousando
‘Sobre o meu braço,
E um pouco, um pouco,
No coração,
Não houve um ritmo
Novo no espaço?
Como se tu,
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo,
Que nem soubesses
Que tinha ser.

Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
                                                               


                                                                

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Cinema

O SOLISTA

A não perder


domingo, 25 de outubro de 2009



online

África

é também dor..pobreza..doença..





imagens da internet

Conta-mo outra vez

                                      Conta-mo outra vez


                          Conta-mo outra vez: é tão bonito
                          que não me canso nunca de escutá-lo.
                          Repete-me outra vez que o par
                          do conto foi feliz até à morte.
                          Que ela não lhe foi infiel, que a ele nem sequer
                          lhe ocorreu enganá-la. E não te esqueças
                          de que, apesar do tempo e dos problemas,
                          continuaram beijando-se cada noite.
                          Conta-mo mil vezes por favor:
                          é a história mais bela que conheço.

Amália Bautista







sábado, 24 de outubro de 2009

África

..que beleza..


www.travel-pictures-gallery.com

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

DE QUE FALAMOS?

                                                         DE QUE FALAMOS?



                                               De que falamos
                                               quando falamos das palavras
                                               senão do tempo
                                               que corre-escorre
                                               por entre as malhas da voz?

                                               Faladas
                                               as palavras
                                               são um combate encenado
                                               uma insónia pessoal
                                               Escritas são reféns do olhar

                                               No espaço da página
                                               deslizam altivas como icebergues
                                               ou então soçobram
                                               desconhecidamente
                                               no lado sombrio do funesto olvido


Ana Hatherly 

                                                    

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

VERSOS

                                                                

                                            Incontáveis as armadilhas
                                            as grutas os becos
                                            os desvios do poema

                                           De que a tinta aprisiona
                                           a forma no papel
                                           táctil e ardente

                                          Caligrafia cruel aquela
                                          onde os versos galgam
                                          a volúpia do corpo

                                          E  a urdidura da alma

                                          Obsessiva memória
                                          que o tempo despreza
                                          e a mão não acalma.

Maria Teresa Horta

Inquietude

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Brincadeiras

Poesia

                                              

Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minhalma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Listas de som avançam para mim a fustigar-me
Em luz.
Todo a vibrar, quero fugir... Onde acoitar-me?...
Os braços duma cruz
Anseiam-se-me, e eu fujo também ao luar...

Paris, 13-5-1913
In Dispersão (1914)
Mário de Sá Carneiro

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

domingo, 18 de outubro de 2009

Tarde de mais...


                          

Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mágico luar;
E para o som de teus passos conhecer
Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar...

Chegaste, enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que não pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar
E as pedras do caminho florescer!

Beijando a areia de oiro dos desertos
Procurara-te em vão! Braços abertos,
Pés nus, olhos a rir, a boca em flor!

E há cem anos que eu era nova e linda!...
E a minha boca morta grita ainda:
Porque chegaste tarde, ó meu Amor?!... 



Florbela Espanca

Recantos








 


                                  ..onde é obrigatório sonhar..



sábado, 17 de outubro de 2009

Centro Geodésico - Centro Geográfico de Portugal



Situado na Serra da Melriça perto de Vila de Rei.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009


                                                  
                                    Primeiro a tua mão sobre o meu seio,
                                    Depois o pé-o meu-sobre o teu pé.
                                    Logo o roçar urgente do joelho
                                    e o ventre mais à frente na maré.


                                   É a onda do ombro que se instala.
                                   É a linha do dorso que se inscreve.
                                   A mão agora impõe, já não embala
                                   mas o beijo é carícia, de tão leve.


                                   O corpo roda: quer mais pele, mais quente.
                                   A boca exige: quer mais sal, mais morno.
                                   Já não há gesto que  se não invente,
                                   ímpeto que não ache um abandono.


                                   Então já a maré subiu de vez.
                                   É todo o mar que inunda a nossa cama.
                                   Afogados de amor e de nudez
                                   somos a maré alta de quem ama.


                                   Por fim o sono calmo, que não é
                                   senão ternura, intimidade, enleio:
                                   o meu pé descansando no teu pé,
                                   a tua mão dormindo no meu seio.


Rosa Lobato Faria

Música

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

quarta-feira, 14 de outubro de 2009


Tranquilidade..

                                                         ao ENTARDECER

terça-feira, 13 de outubro de 2009


                                  Somente a minha sombra
                                  atravessou comigo
                                  o brilho das manhãs
                                  cativas do meu próprio espanto
                                  Em meus lábios,
                                  tão repousados de beijos, 
                                  ocultei a sede
                                  e nenhum horizonte
                                  me apontou um rumor
                                  de nascente.
                                  Por isso, hoje,
                                  escrevo rio
                                  e um estuário
                                  nasce-me nos olhos:
                                  curso de água
                                  à beira do verão.


Graça Pires

domingo, 11 de outubro de 2009

Quotidiano

                                  Tu permites que eu vá
                                  mas também me reténs
                                  tentando seguir a minha falta

                                 Imaginas que fujo enquanto me tens
                                 e supões-me estar perto
                                 quando afinal já parto

                                 Tu ficas atento, inventas passagens
                                 contas pelos dedos
                                 tudo aquilo que faço

                                 E quando me disfarço fechas os olhos
                                 àquilo que importa

                                 Finges que não sabes
                                 abres a janela e trancas-me a porta

Maria Teresa Horta



                                                 








                               
                               

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Poesia no Feminino







A pão sabem as palavras,
quando a brisa do sul nos roça a cara.
Seguro, nas duas mãos, as tuas mãos
e sob o peito (o teu, o meu), alastram ramos
transparentes que sustêm, na casa,
a trave-mestra, como se a raiz
de cada árvore nos amarrasse
as veias ao destino do coração.



Graça Pires




segunda-feira, 5 de outubro de 2009

" La Negra" deixou-nos








"Gracias", Mercedes Sosa



domingo, 4 de outubro de 2009



Sem ti


Não quero viver
sem ti
mais nenhum tempo


Nem sequer um segundo
do teu sono


Encostar-me toda a ti
eu não invento
Tu és a minha vida o tempo todo


Maria Teresa Horta
OUTONO



Aí está ele..instalando-se devagarinho..


sexta-feira, 2 de outubro de 2009

..e não só..





Passei pela sala de aula e ouvi...

Prof.: - O que estás a fazer?
Criança: - Um desenho.
Prof.: - Estás a desenhar o quê?
Criança: - Estou a desenhar Deus.
Prof.: - Mas ninguém sabe como Deus é!
Criança: - Em 1 minuto vão saber.