sábado, 31 de dezembro de 2011



"FELIZ ANO NOVO"

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.



Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...


É a Hora!

Fernando Pessoa








sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

domingo, 11 de dezembro de 2011

Em todos os passos

Em todos os passos
existe um pouco do que desejo.

Acordam o rumor do corpo
em lugares próximos.
Antecipam a distância
apesar de ínfimos e repetidos.

Percorria as ruas
como se nada procurasse
além do desígnio.
Entre os limites, acrescentava o deserto.

Encontrarei o que desejo em todos os passos,
não apenas no fim ou no início.


Joel Henriques





domingo, 20 de novembro de 2011

O mar
A onda encrespa-se e cai.
Bate na rocha,
banha as areias
as pedras brilham.
A chuva derrama-se beijando a terra e fecundando-a,
murmurando todos os segredos dos amantes.
O Vento
varre a peste e deixa na cara das coisas a sua marca.
O sol
aquece a Alma do mundo, cujas partículas a nós pertencem.
Beijo a terra e parto
Comungo a vida sem laços
com ternuras na pele
beijos matinais e carícias do olhar.
Sorvo o ar 
lentamente
e quem sabe...
Sou feliz.

Maria Teresa Mota


 

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O CREPÚSCULO DOS HOMENS

Eram homens, aqueles que ficaram
depois dos deuses mortos, esquecidos...
Só que os homens, por fim, também pensaram
serem deuses. E logo, consumidos.
Com a cisão do átomo, vibraram.
E ficaram depois mais desunidos
com as coisas que os deuses lhes legaram:
auroras e crepúsculos seguidos.

Mas não se avista ainda o fim da dança.
Para lá do crepúsculo se lança,
desafiando monstros e dragões.
Imitação ou mera semelhança,
como os deuses o homem não descansa.
Afaga a brisa e surgem-lhe tufões...

HERNANI DE LENCASTRE


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

PÁTRIA


Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro

Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Dum longo relatório irrecusável

E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas

-Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro

Me dói a lua me soluça o mar
E o exílio se inscreve em pleno tempo

SOPHIA DE MELLO BREYNER
 
 
 
 


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

CONDOR

Doce olhar
           cachorrento
minhas feridas
           lavava,
apaziguador.


E em mim
         incubava
a sua própria dor.


Rosa Melo


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

44

As flores roxas partem-se ao toque da chuva.
Lugar sem nome, saudade de mim
                                     Sem querer pisaste o meu jardim
                                     e as marcas dos teus pés ainda aqui estão
                                     As pegadas diluir-se-ão
                                     No fim só o aroma de ti.






Maria Teresa Mota


 

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

ENTRELAÇAR


Desentrelaço o amor
deslaçando o imprevisto
e se com ele me visto

de novo com as tuas mãos
torno a tecer
o que dispo

Entranço a luz no abraço
e o baraço no fulgor
desembaraço a nudez

tiro e uso o meu pudor
ponho o sol a iluminar
o corpo seja onde for


Maria Teresa Horta


domingo, 28 de agosto de 2011

A CHEGADA DO POEMA

É uma inesperada ideia, que irrompe do nada!
Um sopro,
Um acenar na bruma,
Um balancear de folha,
Um afagar de brisa,
Uma tremura de água,
Um trejeito de ombro,
Um sussurrar de anca,
Um barquinho no olhar...
Não sei explicar!
Batem à porta!
Quem é?!
Vou abrir.
É o poema
Que entra a sorrir...

Eduardo Aleixo






 

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Branco Sal

Descobrir-te
sob o mesmo céu,
              onde os pássaros.

Ver os pássaros.


Eo Sol e a Luz
e as Cores.
             A Manhã.


Descobrir-te
onde te sabia.
Desde o primeiro dia:
há muito tempo...


Retiro o véu
com que te cobri.
              Da cartola:
O coelho ou a pomba?


Talvez gaivotas.
De maresia 
cercados
-Vivemos-




Rosa Melo



 





terça-feira, 19 de julho de 2011

CHÃO FIRME

Das silvas colhendo amoras,
do céu estrelas colhendo,
das trevas colhendo ânimo,
do mal colhendo a razão,
dos erros colhendo o certo,
do ódio colhendo o amor,
vou por onde outros já foram,
vou por onde outros irão.
Nunca, por mais vão que seja,
o meu sonho será vão.


Armindo Rodrigues


domingo, 10 de julho de 2011

Com as árvores e com as águas
partilho os meus pensamentos.
Manuseio estas palavras como se fossem minhas
para as usar como protesto,
como absolvição: a boca
devorando a própria fome.
Aguardo um sinal que decifre
o nomadismo da memória
e rompa a cumplicidade do tempo.



Graça Pires








quarta-feira, 29 de junho de 2011

Mãos

A ternura são as mãos.
Não são o canto que exalta
nem a palavra que grita.
São as mãos.

São as mãos que fazem 
falta
Não as do ódio que mata :
as da fé que ressuscita.


As que, mudas, se
procuram
na velha sombra da
escada,
no esquivo canto do muro,
livres como a madrugada,
sabendo que é o futuro
que as alimenta - e mais nada.


Sim, são as mãos a ternura
possível neste deserto
que salta, muito concreto,
do rosto da multidão.


Sim são as mãos a ternura.
Sim, meu amor, a ternura,
a ternura
são as tuas mãos!


António Luís Moita

CIDADE SEM TEMPO
        Do Amor
        Da Morte
Das Pequenas Coisas
        Poemas 


 





terça-feira, 21 de junho de 2011

Prece

Digo o teu nome
                      baixo
                      repetido

como quem diz a prece
condenada
perante um deus maligno e antigo    


                        vingativo
                        violento
                        viciado


Digo


                         murmurado um castiçal


                         de prata e de areia cinzelado


é o teu nome
castiçal sagrado
que acendo  reacendo e não apago




MariaTeresa Horta
    Candelabro-Maio de 1972




quarta-feira, 15 de junho de 2011

Como se de repente ao coração do sol

Como se de repente ao coração do sol
as raízes da luz alguém as arrancasse...
Como se de repente as hélices do vento
arranhassem o ar, e o Mar estivesse perto...
Como se de repente o Mundo entontecesse...

Foi tudo de repente e tudo ao mesmo tempo:
escuridão, rumor, frescura, movimento.

Mas de entre as espirais confusas quem sabia
se era de novo amor, se era só melodia?

David Mourão-Ferreira


quarta-feira, 8 de junho de 2011

Calabouço

Dou laços 
com os meus braços
em redor do teu pescoço

Desato aquilo que faço
dou um nó no fundo poço
no modo como te enlaço

De bruços desfaço
o espaço
no torpor que solto e ouço

Traço com a boca e trespasso
o coração que doendo
se torna meu calabouço

Maria Teresa Horta



 

segunda-feira, 30 de maio de 2011

8

Mergulharei em finas neblinas
que abrirão comportas do nunca visto
dos sentidos puros onde
cada cheiro,
cor
me transportará a recantos não visitados.
Quantas coisas direi
sem querer
Quantas armas usarei
para me impedir de te amar
até ao insuportável.
Forjei lanças e dardos
sem procurar outros caminhos.
Repito vezes sem conta verdades....
que nem relativas são!
Resisto.
Entrego!


Maria Teresa Mota


domingo, 15 de maio de 2011

QUOTIDIANO

Tu permites que eu vá
mas também me reténs
tentando seguir a minha falta

Imaginas que fujo enquanto me tens
e supões-me estar perto
quando afinal já parto

Tu ficas atento, inventas passagens
contas pelos dedos
tudo aquilo que faço

E quando me disfarço fechas os olhos
àquilo que importa

Finges que não sabes
abres a janela e trancas-me a porta


Maria Teresa Horta


terça-feira, 10 de maio de 2011

Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!


David Mourão-Ferreira
infinito pessoal ou a arte de amar-1962


 

 

sábado, 30 de abril de 2011

PALAVRAS PARA A MINHA MÃE

mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.

lê isto: mãe, amo-te.

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes. 





José Luís Peixoto, in " A Casa, a Escuridão "






 

sábado, 23 de abril de 2011

15

ao entardecer
desta amargura
apanhei
quinze barcos
para longe
de todos os tempos
e só ficou foi a névoa
de querer abrir-me
em beijos 
e sussurrar
ao mar
e ao teu peito
que nada me separa
do desejo
de te viver.


Ana Ventura


sábado, 16 de abril de 2011

LINHA DE RUMO

Quem não me deu Amor,
Não me deu nada.
Encontro-me parado...
Olho em redor e vejo inacabado
O meu mundo melhor.

Tanto tempo perdido...
Com que saudade o lembro e o bendigo:
Campos de flores...
E silvas.

Fonte da vida fui. Medito. Ordeno.
Penso o futuro a haver.
E sigo deslumbrado o pensamento
Que se descobre.

Quem não me deu Amor, não me deu nada.
Desterrado,
Desterrado prossigo.
E sonho-me sem Pátria e sem Amigos,
Adrede.

Ruy Cinatti
in « O livro do Nómada meu Amigo», 1958



quarta-feira, 30 de março de 2011

LINHAS PARALELAS

Neste longo viver,
Tudo nos vai acontecendo:
O mau queremos esquecer,
O bom vai arrefecendo.

São linhas paralelas,
Que, sem querer, existem.
Não se apaga qualquer delas,
são linhas que coexistem.

Sem o bom, porém,
O mau não tinha existido.
Sem as coisas más, também,
A felicidade não tinha acontecido.

São linhas paralelas,
Que jamais podem desaparecer.
Pois qualquer delas
Faz parte do nosso viver.


Rolendis Solá Albuquerque



quarta-feira, 2 de março de 2011

DENTRO DA VIDA

Não estamos preparados para nada :
certamente que não para viver
Dentro da vida vamos escolher
o erro certo ou a certeza errada

Que nos redime dessa magoada
agitação do amor em que prazer
nem sempre é o que fica de querer
ser o amador e ser a coisa amada?

Porque ninguém nos salva de não ser
também de ser já nada nos resgata
Não estamos preparados para o nada:
certamente que não para morrer


Gastão Cruz (1941)
A Moeda do Tempo





sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

SOU PROFESSORA

Escolinha
Não saibas: imagina...
Deixa falar o mestre e devaneia...
A velhice é que sabe, e apenas sabe
Que o mar não cabe
Na poça que a inocência abre na areia.

Sonha!
Inventa um alfabeto
de ilusões...
Um a-bê-cê secreto
Que soletres à margem das lições...

Voa pela janela
De encontro a qualquer sol que te sorria!
Asas? Não são precisas:
Vais ao colo das brisas,
Aias das fantasias..

 

Miguel Torga

 

 

 

 

 

Imagem da internet

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

SOBRE O CAMINHO

Nada.

Nem o branco fogo do trigo
nem as agulhas cravadas  na pupila dos pássaros
te dirão a palavra.

Não interrogues não perguntes
entre a razão e a turbulência da neve
não há diferença.


Não colecciones dejectos o teu destino és tu.


Despe-te
não há outro caminho.


Eugénio de Andrade


 

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

POESIA

Doze signos do céu o Sol percorre,
E, renovando o curso, nasce e morre
Nos horizontes do que contemplamos.
Tudo em nós é o ponto de onde estamos.

Ficções da nossa mesma consciência
Jazemos o instinto e a ciência.
E o sol parado nunca percorreu
Os doze signos que não há no céu.


Fernando Pessoa ( 1888-1935 )
Poesia 1918-1930


domingo, 6 de fevereiro de 2011

Art Project, powered by Google

Art Project, powered by Google: "– Enviado através da Barra de ferramentas do Google"

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

ST.VALENTINE'S DAY

Roses are red
Violets are blue
Love is gold
To the happy few


Adília Lopes (1960)
Dobra ( Poesia Reunida 1983-2007)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Se nas tuas mãos
colhesse o orvalho que mitigasse a minha dor...
sobre elas derramaria o meu ser preguiçoso
em busca de unidade.
Se nos meus olhos que carregam os teus,
bebêssemos maresias
quem sabe?
que voos alcançaríamos?
Silêncios nos rodeiam,
gritos ecoam,
Que sentido faz a música quando a encontro em ti?
Que sentido!...
Quem sabe


Maria Teresa Mota


segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Estende a tua mão contra a minha boca e respira,
e sente como respiro contra ela,
e sem que eu nada diga,
sente a trémula,tocada coluna de ar
a sorvo e sopro,
ó
táctil,ininterrupta,
e a tua mão sinta contra mim
quanto aumenta o mundo




Herberto Helder
Ofício Cantante


 

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

RECOMEÇAR

Não importa onde você parou …
em que momento da vida você cansou…
o que importa é que sempre é possível e necessário “Recomeçar”.
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo…
é renovar as esperanças na vida e o mais importante…
acreditar em você de novo…
Sofreu muito nesse período? Foi aprendizado.
Chorou muito? Foi limpeza da alma.
Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las um dia.
Tem tanta gente esperando apenas um sorriso seu para “chegar” perto de você.
Recomeçar…
hoje é um bom dia para começar novos desafios.
Onde você quer chegar?
Ir alto… sonhe alto…
queira o melhor do melhor…
pensando assim trazemos pra nós aquilo que desejamos…
Se pensarmos pequeno coisas pequenas teremos ….
Já se desejarmos fortemente o melhor e principalmente lutarmos pelo melhor, o melhor vai se instalar em nossa vida.
“Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura.”

Carlos Drummond de Andrade