quarta-feira, 27 de março de 2013

Depois das palavras


O silêncio continua o caminho
quando não é possível a viagem.

Tem campos
que se prologam na distância.
No seu dorso encontro
o que nenhuma frase alcançaria.

Os poemas ficam sempre antes
do lugar desejado.
Não seguem até ao fim
do instante que permitem.

O mundo começa no seu limite,
depois de cada palavra.
E a poesia outra vez isolada
tornou-se no sinal da despedida.


Joel Henriques

(publicado na Rev. Relâmpago, nº21. Versão modificada)









sexta-feira, 22 de março de 2013

Estilhaços


Estilhaços de vidro
Alguma coisa se partiu
Quebrou-se em milésimas
Partes infinitas e foscas
Tão pequenas
Jamais se dirá o que um dia foi
Permanece no chão
Coberto com uma longa teia
Brilham à medida que a luz trespassa
O que se terá desfeito?
Não hã nada a limpar
Não é possível juntar todos os fragmentos
Estilhaços. . .



Sara Almeida Santos




quarta-feira, 6 de março de 2013

AS PALAVRAS APROXIMAM


As palavras aproximam
prendem-soltam
são montanhas de espuma
que se faz-desfaz
na areia da fala


Soltam freios
abrem clareiras no medo
fazem pausa na aflição


ou então não:
                  matam
         afogam
                  separam definitivamente



Amando muito muito
ficamos sem palavras



Ana Hatherly