Depois das palavras
O silêncio continua o caminho
quando não é possível a viagem.
Tem campos
que se prologam na distância.
No seu dorso encontro
o que nenhuma frase alcançaria.
Os poemas ficam sempre antes
do lugar desejado.
Não seguem até ao fim
do instante que permitem.
O mundo começa no seu limite,
depois de cada palavra.
E a poesia outra vez isolada
tornou-se no sinal da despedida.
Joel Henriques
(
publicado na Rev. Relâmpago, nº21. Versão modificada)
Estilhaços
Estilhaços de vidro
Alguma coisa se partiu
Quebrou-se em milésimas
Partes infinitas e foscas
Tão pequenas
Jamais se dirá o que um dia foi
Permanece no chão
Coberto com uma longa teia
Brilham à medida que a luz trespassa
O que se terá desfeito?
Não hã nada a limpar
Não é possível juntar todos os fragmentos
Estilhaços. . .
Sara Almeida Santos
AS PALAVRAS APROXIMAM
As palavras aproximam
prendem-soltam
são montanhas de espuma
que se faz-desfaz
na areia da fala
Soltam freios
abrem clareiras no medo
fazem pausa na aflição
ou então não:
matam
afogam
separam definitivamente
Amando muito muito
ficamos sem palavras
Ana Hatherly