UMA CONSTANTE DA VIDA
Errámos junto
à História: devíamos
pegar em foices e enxadas
e destruir mil campos
de pensar:
computadores, ogivas nucleares,
assentos petrolíferos e mais:
centrais de mil cisões
(e, já agora, aquele pequeníssimo
sonar)
Errámos pela
História: enquanto tempo,
devíamos pegar nas foices,
nas enxadas.
E nos anéis das fadas
plantar outras sementes: bombas
despoletadas, ferrugentas,
que dessem trigo e paz
Errámos nas histórias
de encantar:
um lobo freudiano, um capuchinho,
um osso pela grade
da prisão.
Voltaram as sereias
sentadas no olhar em devoção
(sem nunca terem nem sequer
partido)
E seduz-nos ainda
esse cantar.)
Errámos sem saber
que o seu vagar é tal
que o sonho, cedo ou tarde,
se fará.
Que ao lado da cisão: a catedral
e ao lado do vitral: irracional
razão
A história junto
à História,
a enxada quebrada
pelo chão
Ana Luísa Amaral
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Poesia
SONETO MAIS QUE SONETO
Enquanto é só razão, sei que consigo
Salvaguardar-me lúcida e pensada.
Mas mal te tento reorganizar
Numa memória nova ou recriada,
Retorno ao ponto zero em que me estás:
Soneto dos sonetos mais antigos:
Numa normal conversa com fantasmas
Como aos fantasmas de velhos amigos.
Sonho-te, cerebral e por vontade,
Palavra de influências libertada,
Mais que neologismo no meu canto.
Dou-te voltas e dobras racionais,
Trato-to como trato os meus papéis
-Mas só me vêm métricas cruéis.
E desalinho ao desejar-te tanto
(ou «Desafino ao desejar-te tanto?»)
Ana Luísa Amaral-Se fosse um intervalo
de Ruyman78
Enquanto é só razão, sei que consigo
Salvaguardar-me lúcida e pensada.
Mas mal te tento reorganizar
Numa memória nova ou recriada,
Retorno ao ponto zero em que me estás:
Soneto dos sonetos mais antigos:
Numa normal conversa com fantasmas
Como aos fantasmas de velhos amigos.
Sonho-te, cerebral e por vontade,
Palavra de influências libertada,
Mais que neologismo no meu canto.
Dou-te voltas e dobras racionais,
Trato-to como trato os meus papéis
-Mas só me vêm métricas cruéis.
E desalinho ao desejar-te tanto
(ou «Desafino ao desejar-te tanto?»)
Ana Luísa Amaral-Se fosse um intervalo
de Ruyman78
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Poesia no feminino
Depoimento
Eis que desço
as mãos
os dedos nus
Eis que empunho
o vidro
pela face
Eis que te utilizo
e te
destruo
Eis que te construo
e te
desfaço
Eis o gume novo
desta
pedra
Eis a faca aberta
na
manhã
as árvores
ocultas
nas palavras
o couro-a violência
o trilho
a lã
Eis o linho bordado
numa cama
a linha na fímbria
da toalha
o fuso-o feltro
o fundo da memória
Eis a água
dita
como vã
depostos objectos
de batalha:
a tenda
a espada
a sela
a sede
a vela
Eis que deponho
aquilo
que me ganha
e que retomo
a seda com que visto
a faca da sede
com que rasgo
o rigor da calma
o rigor das pernas
o rigor dos seios
quando minto
Maria Teresa Horta
Eis que desço
as mãos
os dedos nus
Eis que empunho
o vidro
pela face
Eis que te utilizo
e te
destruo
Eis que te construo
e te
desfaço
Eis o gume novo
desta
pedra
Eis a faca aberta
na
manhã
as árvores
ocultas
nas palavras
o couro-a violência
o trilho
a lã
Eis o linho bordado
numa cama
a linha na fímbria
da toalha
o fuso-o feltro
o fundo da memória
Eis a água
dita
como vã
depostos objectos
de batalha:
a tenda
a espada
a sela
a sede
a vela
Eis que deponho
aquilo
que me ganha
e que retomo
a seda com que visto
a faca da sede
com que rasgo
o rigor da calma
o rigor das pernas
o rigor dos seios
quando minto
Maria Teresa Horta
sábado, 21 de novembro de 2009
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Antoni Gaudí
As obras de Antoni Gaudí são sete monumentos situados em Barcelona, desenhados pelo arquitecto Antoni Gaudí no final do século XIX e início do século XX. O Parque Güell, o Palácio Güell e a Casa Milà foram declarados Património Mundial pela UNESCO em 1984 e os restantes monumentos em 2005.
A Catedral da Sagrada Família, cuja construção começou em 1883, ainda não está terminada. A fachada da natividade completou-se em 1935.
Ponho nestas memórias
a íntima clandestinidade
dos amantes.
Hei-de dizer o nome
de quantas aves se perderam
por roçarem o vazio da noite
em vagaroso voo.
Hei-de ocultar a cara
próximo de uma fonte,
Para colar a boca
ao trilho das chuvas.
Hei-de cercar com águas
nocturnas o lume dos seios.
Depois, sei que vou estremecer de aflição,
quando o ranger das portas se confundir
com o chamamento da tristeza.
Graça Pires
a íntima clandestinidade
dos amantes.
Hei-de dizer o nome
de quantas aves se perderam
por roçarem o vazio da noite
em vagaroso voo.
Hei-de ocultar a cara
próximo de uma fonte,
Para colar a boca
ao trilho das chuvas.
Hei-de cercar com águas
nocturnas o lume dos seios.
Depois, sei que vou estremecer de aflição,
quando o ranger das portas se confundir
com o chamamento da tristeza.
Graça Pires
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
domingo, 15 de novembro de 2009
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Poesia
Com as árvores e com as águas
partilho os meus pensamentos.
Manuseio estas palavras
como se fossem minhas
para as usar como protesto,
como absolvição: a boca
devorando a própria fome.
Aguardo um sinal que decifre
o nomadismo da memória
e rompa a cumplicidade do tempo.
Graça Pires
partilho os meus pensamentos.
Manuseio estas palavras
como se fossem minhas
para as usar como protesto,
como absolvição: a boca
devorando a própria fome.
Aguardo um sinal que decifre
o nomadismo da memória
e rompa a cumplicidade do tempo.
Graça Pires
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
The Impossible Dream
SONHO IMPOSSÍVEL
Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite improvável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão
Chico Buarque e Ruy Guerra
Versão para português da canção " The Impossible Dream", do musical " Man of La Mancha ", baseado na obra de Cervantes.
Foto da internet
Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite improvável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão
Chico Buarque e Ruy Guerra
Versão para português da canção " The Impossible Dream", do musical " Man of La Mancha ", baseado na obra de Cervantes.
Foto da internet
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Poesia no feminino
Chamamento
Da margem do sonho
e do outro lado do mar
alguém me estremece
sem me alcançar.
Um bafo de desejo
chega, vago, até mim.
Perfume delido
de impossível jasmim.
É ele que me sonha?
Sou eu a sonhar?
Sabê-lo seria
desfazer, no vento,
tranças de luar.
Nuvens,
barcos,
espumas
desmancham-se na noite.
E a vida lateja, longe,
num outro lugar.
Luísa Dacosta
Da margem do sonho
e do outro lado do mar
alguém me estremece
sem me alcançar.
Um bafo de desejo
chega, vago, até mim.
Perfume delido
de impossível jasmim.
É ele que me sonha?
Sou eu a sonhar?
Sabê-lo seria
desfazer, no vento,
tranças de luar.
Nuvens,
barcos,
espumas
desmancham-se na noite.
E a vida lateja, longe,
num outro lugar.
Luísa Dacosta
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Poesia
Quando os teus olhos absorvem
todas as cores da minha
mais íntima tristeza,
e compreendes e calas e prometes
um lugar qualquer na tua alma,
e a tua voz demora a regressar
ao neutro compromisso das palavras,
Sei que as tuas mãos ajudariam
a limpar estas lágrimas antigas
por dentro do meu rosto.
Victor Matos e Sá
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