segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Poesia

UMA CONSTANTE DA VIDA


Errámos junto
à História: devíamos
pegar em foices e enxadas
e destruir mil campos
de pensar:
computadores, ogivas nucleares,
assentos petrolíferos e mais:
centrais de mil cisões
(e, já agora, aquele pequeníssimo
sonar)

Errámos pela
História: enquanto tempo,
devíamos pegar nas foices,
nas enxadas.
E nos anéis das fadas
plantar outras sementes: bombas
despoletadas, ferrugentas,
que dessem trigo e paz

Errámos nas histórias
de encantar:
um lobo freudiano, um capuchinho,
um osso pela grade
da prisão.
Voltaram as sereias
sentadas no olhar em devoção
(sem nunca terem nem sequer
partido)

E seduz-nos ainda
esse cantar.)
Errámos sem saber
que o seu vagar é tal
que o sonho, cedo ou tarde,
se fará.
Que ao lado da cisão: a catedral
e ao lado do vitral: irracional
razão

A história junto
à História,
a enxada quebrada
pelo chão


Ana Luísa Amaral



sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Poesia

SONETO MAIS QUE SONETO



Enquanto é só razão, sei que consigo
Salvaguardar-me lúcida e pensada.
Mas mal te tento reorganizar
Numa memória nova ou recriada,

Retorno ao ponto zero em que me estás:
Soneto dos sonetos mais antigos:
Numa normal conversa com fantasmas
Como aos fantasmas de velhos amigos.

Sonho-te, cerebral e por vontade,
Palavra de influências libertada,
Mais que neologismo no meu canto.

Dou-te voltas e dobras racionais,
Trato-to como trato os meus papéis
-Mas só me vêm métricas cruéis.

E desalinho ao desejar-te tanto
(ou «Desafino ao desejar-te tanto?»)



Ana Luísa Amaral-Se fosse um intervalo


de Ruyman78

                                                                             
                       
                    

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Poesia no feminino

 Depoimento


Eis que desço
as mãos
os dedos nus

Eis que empunho
o vidro 
pela face

Eis que te utilizo
e te 
destruo

Eis que te construo
e te 
desfaço

Eis o gume novo
desta 
pedra

Eis a faca aberta
na 
manhã

as árvores
ocultas
nas palavras

o couro-a violência
o trilho
a lã

Eis o linho bordado
numa cama

a linha na fímbria
da toalha

o fuso-o feltro
o fundo da memória


Eis a água
dita
como vã


depostos objectos
de batalha:


a tenda
a espada
a sela
a sede
         a vela


Eis que deponho
aquilo
que me ganha


e que retomo
a seda com que visto
a faca da sede
com que rasgo


o rigor da calma
o rigor das pernas
o rigor dos seios
                         quando minto




Maria Teresa Horta




















sábado, 21 de novembro de 2009

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Antoni Gaudí




As obras de Antoni Gaudí são sete monumentos situados em Barcelona, desenhados pelo arquitecto Antoni Gaudí no final do século XIX e início do século XX. O Parque Güell, o Palácio Güell e a Casa Milà foram declarados Património Mundial pela UNESCO em 1984 e os restantes monumentos em 2005.






















A Catedral da Sagrada Família, cuja construção começou em 1883, ainda não está terminada. A fachada da natividade completou-se em 1935.





Ponho nestas memórias
a íntima clandestinidade
dos amantes.
Hei-de dizer o nome
de quantas aves se perderam
por roçarem o vazio da noite
em vagaroso voo.
Hei-de ocultar a cara
próximo de uma fonte,
Para colar a boca
ao trilho das chuvas.
Hei-de cercar com águas
nocturnas o lume dos seios.
Depois,  sei que vou estremecer de aflição,
quando o ranger das portas se confundir
com o chamamento da tristeza.


Graça Pires



domingo, 15 de novembro de 2009

Poesia




Eu ontem vi-te
Andava a luz
Do teu olhar,
Que me seduz
A divagar
Em torno a mim.
E então pedi-te,
Não que me olhasses,
Mas que afastasses,
Um poucochinho,
Do meu caminho,
Um tal fulgor
De medo, amor,
Que me cegasse,
Me deslumbrasse
Fulgor assim.

Ângelo de Lima


quinta-feira, 12 de novembro de 2009


OBRIGADA PELO SELINHO LILI!




É LINDO1

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Poesia

Com as árvores e com as águas
partilho os meus pensamentos.
Manuseio estas palavras
como se fossem minhas
para as usar como protesto,
como absolvição: a boca
devorando a própria fome.
Aguardo um sinal que decifre
o nomadismo da memória
e rompa a cumplicidade do tempo.


Graça Pires











                                                     

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

The Impossible Dream

                SONHO IMPOSSÍVEL



Sonhar
Mais um sonho impossível

Lutar
Quando é fácil ceder

Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender

Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão

Voar num limite improvável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão

Não me importa saber
Se é terrível demais

Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz

E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão

Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão

E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão


Chico Buarque e Ruy Guerra






Versão para português da canção " The Impossible Dream", do musical " Man of La Mancha ", baseado na obra de Cervantes.















 Foto da internet

sexta-feira, 6 de novembro de 2009


De tão longe me tocaste.
Ou foi a tua sombra 
que dançou
na minha sombra?
Podia ser de júbilo
a linha do teu rosto
quando soletraste
a rebeldia dos sonhos
e te fizeste errante.
Agora o sonho
é também o meu exílio.
E muito mais me perturba
o luto do olhar
do que a boca
ferida de silêncio.



Graça Pires
















quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Poesia no feminino

                              Chamamento


Da margem do sonho
e do outro lado do mar
alguém me estremece
sem me alcançar.


Um bafo de desejo
chega, vago, até mim.
Perfume delido
de impossível jasmim.


É ele que me sonha?
Sou eu a sonhar?
Sabê-lo seria
desfazer, no vento,
tranças de luar.



Nuvens,

barcos,
espumas
desmancham-se na noite.


E a vida lateja, longe,
num outro lugar.




Luísa Dacosta




 












 

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Poesia


 No feminino


                                    


Quando os teus olhos absorvem
 todas as cores da minha
 mais íntima tristeza,
 e compreendes e calas e prometes
 um lugar qualquer na tua alma,

 e a tua voz demora a regressar
 ao neutro compromisso das palavras,


Sei que as tuas mãos ajudariam
a limpar estas lágrimas antigas
por dentro do meu rosto.                                   



Victor Matos e Sá