Se me pedisses de repente e aqui:
«fala das luas e dos dias», eu
nem falaria, diria só que estar contigo
é estar-me:
ofício de tanto tempo,
e natural
ajustado como pequeno girassol,
ao sul: uma paisagem
Nem saberia por onde começar:
se no olhar, se na palavra,
ou se no teu sorriso
que me devastou o equilíbrio do igual
Não sei, meu amor,
como entender este pequeno girassol,
explicar-lhe o movimento certo,
a rotação completa e tão
perfeita,
as folhas muito verdes
de uma tal filigrana delicada
Sobretudo, este seu hino
em direcção a tudo
e já nem sei falá-lo,
porque lhe basta o tempo,e esse
-sem palavras
Ana Luísa Amaral
sábado, 27 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
MUSSEQUE
Numa certa lua,
ao nascer,
depois de ter errado
durante o dia
por entre o desvario do musseque
já na cama
talvez eu me enrole em ti,
em conchinha,
e te segrede, atordoada ainda, ao ouvido:
espanto.
É a palavra mais limpa que me pode passar pela boca.
Onde vão buscar a força de sobreviver assim?
Luísa Coelho
ao nascer,
depois de ter errado
durante o dia
por entre o desvario do musseque
já na cama
talvez eu me enrole em ti,
em conchinha,
e te segrede, atordoada ainda, ao ouvido:
espanto.
É a palavra mais limpa que me pode passar pela boca.
Onde vão buscar a força de sobreviver assim?
Luísa Coelho
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
sábado, 20 de fevereiro de 2010
POESIA
As formas, as sombras, a luz que descobre a noite
e um pequeno pássaro
e depois longo tempo eu te perdi de vista
meus braços são dois espaços enormes
os meus olhos são duas garrafas de vento
e depois eu te conheço de novo numa rua isolada
minhas pernas são duas árvores floridas
os meus dedos uma plantação de sargaços
a tua figura era ao que me lembro
da cor do jardim.
António Maria Lisboa
e um pequeno pássaro
e depois longo tempo eu te perdi de vista
meus braços são dois espaços enormes
os meus olhos são duas garrafas de vento
e depois eu te conheço de novo numa rua isolada
minhas pernas são duas árvores floridas
os meus dedos uma plantação de sargaços
a tua figura era ao que me lembro
da cor do jardim.
António Maria Lisboa
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
DE UMA SÓ VEZ
Então deixa-me fugir contigo.
Deixa-me largar as pedras, abandonar as ruas,
Empurrar o chão e subir às nuvens.
Soltar amarras, correntes e pendentes
Ir contigo para o preenchido vazio.
Deixa-me entrar nesse colorido,
Ser o centro do vermelho garrido
Do longe, do vasto, do desejo
Respirado, finalmente desejado.
Então deixa-me entrar nessa vida contigo,
Sair desta e ver que o mundo
Se renova cada dia.
Margarida Damião Ferreira
Deixa-me largar as pedras, abandonar as ruas,
Empurrar o chão e subir às nuvens.
Soltar amarras, correntes e pendentes
Ir contigo para o preenchido vazio.
Deixa-me entrar nesse colorido,
Ser o centro do vermelho garrido
Do longe, do vasto, do desejo
Respirado, finalmente desejado.
Então deixa-me entrar nessa vida contigo,
Sair desta e ver que o mundo
Se renova cada dia.
Margarida Damião Ferreira
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
MÍSERO ENTARDECER
Oiço o mar gritar pela onda que se desmancha
Sinto a dor do peixe picado pelo voo da gaivota
Abro os braços e deixo o vento passar pela minha ausência
Não quero ver morrer o espírito do pobre que passeia incerto
na areia quente da vida
Não sei que poema a vida quer
Já não sorrio
Ana Ventura-Tracejado
Sinto a dor do peixe picado pelo voo da gaivota
Abro os braços e deixo o vento passar pela minha ausência
Não quero ver morrer o espírito do pobre que passeia incerto
na areia quente da vida
Não sei que poema a vida quer
Já não sorrio
Ana Ventura-Tracejado
domingo, 7 de fevereiro de 2010
sábado, 6 de fevereiro de 2010
ONDE
Uma escassa flor
à cabeceira
da mesa ou da cama
quando a luz se disfarça
Onde o pão alimenta
ou o corpo se deita
na madeira do sol, no lençol da água
onde está a caverna
que esconde
a nossa angústia?
Onde fica a distância
porque o tempo
se apaga?
Eu nunca me escuso
ponho venda ou encubro
Nem busco o meu voo
no silêncio da asa
Maria Teresa Horta
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
AS PEQUENAS PALAVRAS
De todas as palavras escolhi água,
porque lágrima, chuva, porque mar
porque saliva, bátega, nascente
porque rio, porque sede, porque fonte.
De todas as palavras escolhi dar.
porque lágrima, chuva, porque mar
porque saliva, bátega, nascente
porque rio, porque sede, porque fonte.
De todas as palavras escolhi dar.
De todas as palavras escolhi flor
porque terra, papoila, cor, semente
porque rosa, recado, porque pele
porque pétala, pólen, porque vento.
De todas as palavras escolhi mel.
porque terra, papoila, cor, semente
porque rosa, recado, porque pele
porque pétala, pólen, porque vento.
De todas as palavras escolhi mel.
De todas as palavras escolhi voz
porque cantiga, riso, porque amor
porque partilha, boca, porque nós
porque segredo, água, mel e flor.
porque cantiga, riso, porque amor
porque partilha, boca, porque nós
porque segredo, água, mel e flor.
E porque poesia e porque adeus
de todas as palavras escolhi dor.
de todas as palavras escolhi dor.
Rosa Lobato de Faria
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