segunda-feira, 1 de março de 2010

AS RAÍZES DO VOO

São as cores?
Ou declarar-me assim a esta árvore?
Num sobressalto, desassossego
lento-as colmeias de ramos e de folhas,
o corpo em curvas densas,
as raízes,
e, delicadamente, o coração

Apaixonar-me e outra vez,
agora por um tempo de nervura
acesa, o fogo-e sem palavra que chegasse
para habitar o mundo:
são as cores, dir-lhe-ia,
ou os meus olhos?

E se faltar olhar, ouvido, cheiro, mãos,
ver-te sem ver, sentir-te sem sentir:
neste musgo e por dentro
poder perder-me, fingir-me distraída
pelo puro prazer de me fingir,
sem sossego nenhum
-aprender a voar-
pelo desassossego de um dedo
preso à terra

Mas se as asas faltarem,
serão sempre as cores,
uma leve impressão de nervos, digital,

Há-de ser isto assim:
luz para além de azul,
paz muito além do verde a respirar
-ou eu, igual ao sol,
comovendo-me em ar e
por raízes-


Ana Luísa Amaral







3 comentários:

  1. Além do poema que é excelente, a imagem ao fundo é divina.

    Beijo

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  2. *
    enraizado e belo poema
    é de ler e reler . . .
    ,
    voo
    nas raízes coloridas
    anilando o meu olhar
    para além do horizonte . . .
    ,
    conchinhas,
    ,
    *

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  3. convite para a seguir a história de Alice
    lá no ...continuando assim...


    bj
    Teresa

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