sexta-feira, 29 de outubro de 2010

INSTABILIDADE

Depois dos limites da linguagem,
a vertigem torna-se maior.

Mas a instabilidade da poesia
existe apenas
porque o mundo se abrigou em nós.

A terra tornou-se
a evidência da ignorância
e a forma respira nas palavras.

Mares infindos e montanhas altas
procuram a claridade
de ser mais do que pedra e água.


Joel Henriques 


sexta-feira, 22 de outubro de 2010

CUMPLICIDADE

Escuto o vento distante.
É dor que não é sentida.
Mas a brisa refrescante
A roçagar-me atrevida
É como beijo de amante
Atrás da porta da vida.




António Levi De Meireles




quinta-feira, 14 de outubro de 2010

AGARREI O TEMPO

Agarrei o tempo cruzei o medo
         Senti o olhar distante
      Nas ondas esbranquiçadas
             Que se agitam em
          Ritmos bailados à dor
         Sem vontade ou querer.

Agarrei o tempo perdido no silêncio
   Preso na solidão de um olhar vazio
      No despertar de um amanhecer
   Do sonho perdido em cada anoitecer
              De uma lágrima caída
            De um sorriso silenciado.

Agarrei o tempo perdido nos sonhos
   Que o vento arrastou na sua dança
           Sonhos que se perderam
       No desconhecido do infinito.


                   Agarrei o tempo...
                      Sem ter tempo
                   Para mim para ti...
                           Para nós...

                  Agarrei o tempo...
                        Mas perdi-o
              Sem ter tempo para o viver!


Paula Pinto

    



                           
                   

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

AMIGO

Se me tens como amigo
Abraça-me hoje contra o teu peito
Hoje sinto-me mendigo
Assim, marioneta sem jeito

Sinto um furacão de solidão
Habitar-me todo inteiro
E um perverso sentimento de desilusão
Me escarnece, tiro certeiro

Se me tens como amigo (ainda que tão só)
Não me lamentes
Acaricia-me e leva-me contigo
Porque eu criarei novas sementes

Assim, de modo terno, mas não me levantes
porque se Deus me concedeu este lamento
Amigo, tu já viste muito antes
Que minha alma só é alma quando há vento.


António Henrique