Se ao menos pudesse pôr-te numa sacola e jogar-te ao rio.
Se ao menos o rio fosse para lá de toda a dor.
Onde é o fim do mistério que nos cobre?
Em que mar se espelham as dúvidas que acarinhamos?
Estou-me nas tintas.
Rebentam-se as águas da minha indiferença.
Vou fazer uma viagem até ao médio consciente.
Vou tentar lembrar-me o que feriu a vontade,
o que atrasou o passo ao sonho.
Eu ia tão bem pelo devaneio afora.
Já tinha família e sentimentos, casa e uma bicicleta.
Quem te disse que eu precisava da tua ajuda?
Chamei-te?
Ana Ventura
sábado, 30 de janeiro de 2010
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
SONETO
Não pode Amor por mais que as falas mude
exprimir quanto pesa ou quanto mede.
Se acaso a comoção falar concede
é tão mesquinho o tom que o desilude.
Busca no rosto a cor que mais o ajude,
magoado parecer aos olhos pede,
pois quando a fala a tudo o mais excede
não pode ser Amor com tal virtude.
Também eu das palavras me arreceio,
também sofro do mal sem saber onde
busque a expressão maior do meu anseio.
E acaso perde, o Amor que a fala esconde,
em verdade, em beleza, em doce enleio?
Olha bem os meus olhos, e responde.
António Gedeão
exprimir quanto pesa ou quanto mede.
Se acaso a comoção falar concede
é tão mesquinho o tom que o desilude.
Busca no rosto a cor que mais o ajude,
magoado parecer aos olhos pede,
pois quando a fala a tudo o mais excede
não pode ser Amor com tal virtude.
Também eu das palavras me arreceio,
também sofro do mal sem saber onde
busque a expressão maior do meu anseio.
E acaso perde, o Amor que a fala esconde,
em verdade, em beleza, em doce enleio?
Olha bem os meus olhos, e responde.
António Gedeão
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Poesia
Cuidado. O amor
é um pequeno animal
desprevenido, uma teia
que se desfia
pouco a pouco. Guardo
silêncio
para que possam ouvi-lo
desfazer-se.
Casimiro de Brito
é um pequeno animal
desprevenido, uma teia
que se desfia
pouco a pouco. Guardo
silêncio
para que possam ouvi-lo
desfazer-se.
Casimiro de Brito
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
domingo, 24 de janeiro de 2010
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Marginalidade
Subversivamente
o instinto me descomanda.
E a magia inconsciente
do meu corpo
é um jogo clandestino
de gestos sem eco.
Há um ritual divino
nas carícias sensuais
em que me invento.
Nada me torna inocente
dos meus próprios sentidos
quando solto
as linhas marginais
do pensamento
e me seduzo
com gostos proíbidos.
Sempre são excessivos os desejos de quem sonha
a vida toda num momento.
A solidão é como o vento.
É nos olhos dos mendigos
que a noite se prolonga por mais tempo.
Graça Pires
o instinto me descomanda.
E a magia inconsciente
do meu corpo
é um jogo clandestino
de gestos sem eco.
Há um ritual divino
nas carícias sensuais
em que me invento.
Nada me torna inocente
dos meus próprios sentidos
quando solto
as linhas marginais
do pensamento
e me seduzo
com gostos proíbidos.
Sempre são excessivos os desejos de quem sonha
a vida toda num momento.
A solidão é como o vento.
É nos olhos dos mendigos
que a noite se prolonga por mais tempo.
Graça Pires
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
ESCADA
nesta escada faltam uns dois ou três degraus
tenho medo de saltar
estou demasiado perto do chão para que ele me magoe
mas o simbolismo da queda interfere com a minha moderada paz de espírito
voltar para trás já não faz o meu género
bom, talvez faça, mas o passado já não está lá
fez-se futuro
foi por outros caminhos
deixá-lo ir
estou aqui sentada perante a minha incapacidade de tentar ser feliz
estou aqui a viver um presente que é um buraco na escada
Ana Ventura
tenho medo de saltar
estou demasiado perto do chão para que ele me magoe
mas o simbolismo da queda interfere com a minha moderada paz de espírito
voltar para trás já não faz o meu género
bom, talvez faça, mas o passado já não está lá
fez-se futuro
foi por outros caminhos
deixá-lo ir
estou aqui sentada perante a minha incapacidade de tentar ser feliz
estou aqui a viver um presente que é um buraco na escada
Ana Ventura
domingo, 17 de janeiro de 2010
O TEMPO, O ESPAÇO, E A MADRUGADA
Perdeste-me, nesse momento de desespero
Perdeste-me, há já tempo, no tempo...
E no espaço daquela madrugada
Que baptizámos de sombria...
Éramos, pensávamos, pobres de nós
Sermos aquele rochedo de mar a seus pés,
Mas o mar passou por nós
E nos levou pelo tempo
E no espaço tardio, o grito e o vento...
E a madrugada gemeu em profunda tristeza
E o rochedo que pensámos ser tu e eu
O tempo, o espaço e a madrugada
Para sempre nos perdeu!...
António Henrique
Perdeste-me, há já tempo, no tempo...
E no espaço daquela madrugada
Que baptizámos de sombria...
Éramos, pensávamos, pobres de nós
Sermos aquele rochedo de mar a seus pés,
Mas o mar passou por nós
E nos levou pelo tempo
E no espaço tardio, o grito e o vento...
E a madrugada gemeu em profunda tristeza
E o rochedo que pensámos ser tu e eu
O tempo, o espaço e a madrugada
Para sempre nos perdeu!...
António Henrique
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
QUE ENGANO TE ESPREITA?
liberta esse som que te prende a língua
que te faz mirrar o espírito
que te faz incendiar o peito
liberta esse ai
esse porquê
vai para onde te puxa esse vento
essa força que te rasga em dois
em mais
em tantos
dança com a vida a valsa onde ela quer
não temas pisá-la
escorregar
a vida guia-te
só tens de acompanhar
liberta esse medo
esse peso
qual erro?
Ana Ventura
que te faz mirrar o espírito
que te faz incendiar o peito
liberta esse ai
esse porquê
vai para onde te puxa esse vento
essa força que te rasga em dois
em mais
em tantos
dança com a vida a valsa onde ela quer
não temas pisá-la
escorregar
a vida guia-te
só tens de acompanhar
liberta esse medo
esse peso
qual erro?
Ana Ventura
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
domingo, 10 de janeiro de 2010
POESIA
Pelo silêncio na planície pela tranquilidade em tua voz
pelos teus olhos verdes estelares pelo teu corpo líquido
[de bruma
pelo direito de seguir de mãos dadas na solidão
[nocturna
lutaremos meu Amor
Pela infância que fomos pelo jardim escondido que
[não teve o nosso amor
pelo pão que nos recusam pela liberdade sem
[fronteiras
pelas manhãs de sol sem mácula de grades
lutaremos meu Amor
Pela dádiva mútua da nossa carne mártir
pela alegria em teu sorriso claro pelo teu sonho
[imaterial
pela cidade escravizada pela doçura de um beijo
[à despedida
lutaremos meu Amor
Pelos meninos tristes suburbanos
contra o peso da angústia contra o medo
contra a seta de fogo traiçoeira cravada
em nosso doce coração aberto
lutaremos meu Amor
Na aparência sozinhos multidão na verdade
lutaremos meu Amor
Daniel Filipe
pelos teus olhos verdes estelares pelo teu corpo líquido
[de bruma
pelo direito de seguir de mãos dadas na solidão
[nocturna
lutaremos meu Amor
Pela infância que fomos pelo jardim escondido que
[não teve o nosso amor
pelo pão que nos recusam pela liberdade sem
[fronteiras
pelas manhãs de sol sem mácula de grades
lutaremos meu Amor
Pela dádiva mútua da nossa carne mártir
pela alegria em teu sorriso claro pelo teu sonho
[imaterial
pela cidade escravizada pela doçura de um beijo
[à despedida
lutaremos meu Amor
Pelos meninos tristes suburbanos
contra o peso da angústia contra o medo
contra a seta de fogo traiçoeira cravada
em nosso doce coração aberto
lutaremos meu Amor
Na aparência sozinhos multidão na verdade
lutaremos meu Amor
Daniel Filipe
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Pus o Meu Sonho num Navio
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
ECOS
Em voz alta, ensaiei o teu nome:
a palavra partiu-se
Nem eco ínfimo neste quarto
quase oco de mobília
Quase um tempo de vida a dormir
a teu lado e o desapego é isto:
um eco ausente, uma ausência de nome
a repetir-se
Saber que nunca mais: reduzida
a um canto desta cama larga,
o calor sufocante
Em vez: o meu pé esquerdo
cruzado em lado esquerdo
nesta cama
O teu nome num chão
nem de saudades
Ana Luísa Amaral
a palavra partiu-se
Nem eco ínfimo neste quarto
quase oco de mobília
Quase um tempo de vida a dormir
a teu lado e o desapego é isto:
um eco ausente, uma ausência de nome
a repetir-se
Saber que nunca mais: reduzida
a um canto desta cama larga,
o calor sufocante
Em vez: o meu pé esquerdo
cruzado em lado esquerdo
nesta cama
O teu nome num chão
nem de saudades
Ana Luísa Amaral
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Avatar
Belíssima interpretação de Leona Lewis.."I See You"
Imperioso ler as mensagens ocultas no filme..
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
Poesia no feminino
Afirmas que brigámos. Que foi grave.
Que o que dissemos já não tem perdão.
Que vais deixar aí a tua chave
e vais à cave içar o teu malão.
Mas como destrinçar os nossos bens?
Que livro? Que lembranças? Que papel?
Os meus olhos, bem vês, és tu que os tens.
Não te devolvo - é minha! - a tua pele.
Achei ali um sonho muito velho,
não sei se o queres levar, já está no fio.
E o teu casaco roto, aquele vermelho
que eu costumo vestir quando está frio?
E a planta que eu comprei e tu regavas?
E o sol que dá no quarto de manhã?
É meu o teu cachorro que eu tratava?
É teu o meu canteiro de hortelã?
A qual de nós pertence este destino?
Este beijo era meu? Ou já não era?
E o que faço das praias que não vimos?
Das marés que estão lá à nossa espera?
Dividimos ao meio as madrugadas?
E a falésia das tardes de Novembro?
E as sonatas que ouvimos de mãos dadas?
De quem é esta briga? Não me lembro.
Rosa Lobato Faria
Que o que dissemos já não tem perdão.
Que vais deixar aí a tua chave
e vais à cave içar o teu malão.
Mas como destrinçar os nossos bens?
Que livro? Que lembranças? Que papel?
Os meus olhos, bem vês, és tu que os tens.
Não te devolvo - é minha! - a tua pele.
Achei ali um sonho muito velho,
não sei se o queres levar, já está no fio.
E o teu casaco roto, aquele vermelho
que eu costumo vestir quando está frio?
E a planta que eu comprei e tu regavas?
E o sol que dá no quarto de manhã?
É meu o teu cachorro que eu tratava?
É teu o meu canteiro de hortelã?
A qual de nós pertence este destino?
Este beijo era meu? Ou já não era?
E o que faço das praias que não vimos?
Das marés que estão lá à nossa espera?
Dividimos ao meio as madrugadas?
E a falésia das tardes de Novembro?
E as sonatas que ouvimos de mãos dadas?
De quem é esta briga? Não me lembro.
Rosa Lobato Faria
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