domingo, 25 de abril de 2010

MEU AMOR QUE EU NÂO SEI

Meu amor que eu não sei. Amor que eu canto. Amor que eu digo.
Teus braços são a flor do aloendro.
Meu amor por quem parto. Por quem fico. Por quem vivo.
Teus olhos são da cor do sofrimento.

Amor-país.
Quero cantar-te. Como quem diz:

O nosso amor é sangue. É seiva. E sol. E primavera.
Amor intenso. Amor imenso. Amor instante.
O nosso amor é uma arma. E uma espera.
O nosso amor é um cavalo alucinante.

O nosso amor é um pássaro voando. Mas à toa.
Rasgando o céu azul-coragem de Lisboa,
Amor partindo. Amor sorrindo. Amor doendo.
O nosso amor é como a flor do aloendro.

Deixa-me soltar estas palavras amarradas
Para escrever com sangue o nome que inventei.
Romper. Ganhar a voz duma assentada.
Dizer de ti as coisas que eu não sei.
Amor. Amor. Amor. Amor de tudo ou nada.
Amor-verdade. Amor-cidade.
Amor-combate. Amor-abril.
Este amor de liberdade.


In "Amor Combate"

Joaquim Pessoa


                          

                                         E VIVA O 25 DE ABRIL!



quinta-feira, 22 de abril de 2010

POEMA

Deixo que venha
se aproxime ao de leve
pé ante pé até ao meu ouvido

Enquanto no peito o coração
estremece
e se apressa no sangue enfebrecido

Primeiro a floresta e em seguida
o bosque
mais bruma do que neve no tecido

Do poema que cresce e o papel absorve
verso a verso primeiro
em cada desabrigo


Toca então a torpeza e agacha-se
sagaz
um lobo faminto e recolhido


Ele trepa de manso e logo tão voraz
que da luz é a noz
e depois o ruído


Toma ágil o caminho
e em seguida o atalho
corre em alcateia ou fugindo sozinho


Na calada da noite desloca-se e traz
consigo o luar
com vestido de arminho


Sinto-o quando chega no arrepio
da pele, na vertigem selada
do pulso recolhido


À medida que escrevo
e o entorno no sonho
o dispo sem pressa e o deito comigo




Maria Teresa Horta
in "Inquietude" 




 

terça-feira, 20 de abril de 2010

segunda-feira, 19 de abril de 2010

ONTEM

Quem me dera responder-te com a confiança que tive
Outrora nas tuas palavras,
Quem me dera acreditar que responder-te
Mudaria o mundo,
Quem me dera não ter marcas tão vincadas.
Hoje é tarde para amares a dor
E quereres ardor que vai já bem fundo.


Afinal apareceste.
E eu que julguei que eras só imaginação!



Margarida Damião Ferreira



 





 

quarta-feira, 7 de abril de 2010

segunda-feira, 5 de abril de 2010

CONSTELAÇÕES

Usamos todos a ilusão
de fabricar a vida:
histórias, constelações
de sons e gestos

Usamos todos a suprema glória
do amor: por generosidade
ou fantasia, ou nada, que de nada se fazem universos

Usamos todos mil chapéus de bicos
mal recortados e de encontro
ao sol:
o nosso mais perfeito em franja e bico
e um arremedo tal e seiscentista
que ofuscando-se: o sol

Usamos todos esta condição
de pó de vento, ou de rio
sem pé: único dom de fabricar o tempo
em raiz de palmeira 
ou de cipreste


Ana Luísa Amaral


quinta-feira, 1 de abril de 2010

ESPERA

Hoje estava à tua espera
e não vieste.
E sei bem o que significa a tua ausência,
a tua ausência que alvoroçava
o vazio que deixaste,
como uma estrela.
Dizes que não me queres amar.
Como uma tempestade de verão
que se anuncia e depois se afasta,
assim te negaste à minha sede.
O amor, ao nascer,
tem destes arrependimentos inesperados.
Em silêncio
nos entendemos.


Amor, amor, como sempre,
quisera cobrir-te de flores e de insultos



Vincenzo Cardarelli