quinta-feira, 3 de novembro de 2011

PÁTRIA


Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro

Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Dum longo relatório irrecusável

E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas

-Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro

Me dói a lua me soluça o mar
E o exílio se inscreve em pleno tempo

SOPHIA DE MELLO BREYNER
 
 
 
 


2 comentários:

  1. É das minhas autoras preferidas. A escolha deste poema foi excelente, a foto...magnífica.

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  2. Sophia de Mello Breyner tem uma relação luminosa com a palavra. A linguagem depurada e a organização frásica muito pessoal faz dela um nome intransponível das Letras do séc. XX, em Portugal.
    Motivos mais que suficientes para a felicitar por esta escolha.

    L.B.

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